Cidadezinha perdida
no inverno denso de bruma,
que é de teus morros de sombra,
do teu mar de branda espuma,
das tuas árvores frias
subindo das ruas mortas?
Que é das palmas que bateram
na noite das tuas portas?
Pela janela baixinha,
viam-se os círios acesos,
e as flores se desfolhavam
perto dos soluços presos.
Pela curva dos caminhos,
cheirava a capim e a orvalho
e muito longe as harmônicas
riam, depois do trabalho.
Que é feito da tua praça,
onde a morena sorria
com tanta noite nos olhos
e, na boca, tanto dia?
Que é feito daquelas caras
escondendo o seu segredo?
Dos corredores escuros
com paredes só de medo?
Que é feito da minha vida?
abandonada na tua,
do instante de pensamento
deixado nalguma rua?
Do perfume que me deste,
que nutriu minha existência
e hoje é um tempo de saudade,
sobre a minha própria ausência?
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