terça-feira, 9 de abril de 2013

Depois dos bahá'ís, mulheres são banidas de universidades no Irã

Depois dos bahá'ís, mulheres são banidas de universidades no Irã: Intolerância e discriminação como políticas de estado na República Islâmica


Na última segunda-feira (20), o governo do Irã anunciou mais uma política de retrocesso no país – mulheres serão proibidas de frequentar 77 cursos universitários. A medida aplica-se às novas estudantes e às que já estão cursando a faculdade, e entra em vigor a partir de setembro, com o início do ano letivo no país, quando 36 universidades terão vagas apenas para o sexo masculino.

A jurista Shirin Ebadi, primeira cidadã iraniana a receber o Prêmio Nobel da Paz, solicitou às Nações Unidas que conduzam uma investigação acerca da situação imposta às mulheres em seu país de origem. Segundo ela, o objetivo real é a redução da proporção de estudantes do sexo feminino para abaixo dos 50% – hoje essa taxa é de cerca de 65% – provocando o enfraquecimento dos movimentos feministas e as campanhas contra as leis discriminatórias na República Islâmica.

"É tudo parte da recente política que busca levar as mulheres de volta aos espaços privados dentro das casas, já que sua presença apaixonada não pode ser tolerada na arena pública”, diz Ebadi em uma carta enviada a Ahmad Shaheed, o relator especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos no Irã. "Assim, eles esperam que as mulheres desistam de sua oposição e da demanda por seus próprios direitos”, declara na carta, divulgada pelo The Telegraph, do Reino Unido.

A Dra Ebadi é responsável pelo escritório de advocacia que atuou na defesa dos sete bahá'íspresos ilegalmente em 2008 e que atualmente cumprem 20 anos de sentença após um julgamento a portas-fechadas. Apesar das milhares de folhas constantes do processo, as condenações são embasadas puramente em motivos religiosos. Em 1991, um documento secreto contendo orientações de como lidar com a “Questão Bahá'í” foi revelado pelas Nações Unidas. O Memorando Golpaygani, como é conhecido, consiste em uma política sistemática de monitoramento e erradicação da comunidade bahá’í como uma entidade viável no Irã.

A privação de grupos populacionais específicos do acesso às universidades no Irã não é uma novidade. “Desde 1979, os jovens bahá'ís são impedidos de cursar o terceiro grau”, conta Mary Caetana Aune-Cruz, representante da Comunidade Bahá'í no Brasil. “A partir de 2006, devido à grande pressão internacional, alguns estudantes bahá'ís conseguiram entrar nas universidades. Mas desde então, o que vemos são estratégias cada vez mais refinadas para garantir que eles não possam concluir seus estudos”, afirma Mary.

É realmente vergonhoso que o alvo agora sejam as mulheres, especialmente em se considerando que o país se vangloria de ter permitido acesso feminino a tantas áreas nos anos recentes”, comenta Mary. “Se elas não podem estudar, é uma questão de tempo até que o acesso seja restringido também no campo do trabalho”, declara a representante bahá'í.

Segundo reportagem do The Telegraph, a nova restrição sexista foi adotada diante do fato de que as mulheres iranianas tem se provado mais eficientes que os homens, uma tendência que vai de encontro à abordagem tradicional de dominância masculina dos líderes religiosos do país. Nos anos recentes, a média chegou a três mulheres para cada homem aprovado nos exames vestibulares.

O jornal inglês afirma ainda que os clérigos mais antigos estão preocupados com os efeitos colaterais na sociedade advindos da elevação dos padrões educacionais entre as mulheres, como a diminuição das taxas de fertilidade e casamentos.

Notícias divulgadas recentemente pela Comunidade Internacional Bahá'í divulgam a intensificação da opressão contra bahá'ís em várias cidades iranianas, com destaque para a região de Semnan, localizada a leste de Teerã. Pelo menos 30 seguidores da Fé Bahá'í foram presos por participarem de atividades comunitárias de sua religião (no total 116 bahá'ís encontram-se presos atualmente); casas e lojas de bahá’ís foram alvo de ataques incendiários, inúmeras empresas de bahá'ís foram fechadas pelas autoridades do país e o cemitério bahá'í local sofre com ataques regulares.


Manifestações globais

Além da Prêmio Nobel, outros grupos também vem se manifestando em defesa dos direitos humanos das cidadãs e cidadãos iranianos. Em1ºde abril, cidades como Brasília (Brasil), Amsterdã (Holanda), Londres (Reino Unido) e Paris (França) realizaram uma mobilização simultânea em defesa dos mais de 600 prisioneiros de consciência existentes no Irã.

Durante a Rio+20, uma marcha foi realizada na Praia de Ipanema para chamar a atenção do Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad – que estava na cidade para a Conferência da ONU – para os abusos contra a liberdade e os direitos humanos dos cidadãos de seu país, reunindo mais de 1.000 participantes, entre feministas, homossexuais, religiosos, jornalistas, estudantes e outros grupos cujos pares sofrem preconceito e discriminação no país islâmico. Movimentos cristãos por todo o mundo tem repudiado desde 2011 a condenação por apostasia do pastor Youcef Nadarkhani, acusado de deixar o Islã, e a apreensão de 6.500 exemplares da Bíblia Sagrada.

Em 16 de setembro próximo, a 5ª edição da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosatambém trará a pauta dos direitos humanos no Irã, com foco específico na perseguição a bahá'ís, cristãos e outras minorias presentes na República Islâmica. A expectativa dos organizadores é que cerca de 200 mil pessoas compareçam à Orla de Copacabana.


Para saber mais sobre a perseguição aos bahá'ís no Irã, acesse www.bahai.org.br/noticiase clique em Bahá'ís no Irã.

Para saber mais sobre a Caminhada pela Liberdade Religiosa, clique aqui.

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